segunda-feira, 13 de maio de 2013

Coleções de Arte das Grandes Casas - Palácio do Duque de Lafões


Introdução
Na investigação histórica, em especial a ligada à história local, encontramos muitas vezes testemunhos, histórias e documentos que nos remetem para diferentes áreas do conhecimento histórico, desde a história militar, social, industrial, e outras, sendo contudo uma das áreas que mais me fascina a da história da arte.
Neste particular, a história da arte não deve cingir-se apenas às obras que conhecemos e que nos chegaram até aos dias de hoje, como parece sugerir o Professor Reynaldo dos Santos, na sua obra-magna “Oito Séculos de Arte Portuguesa. História e Espírito”, ao afirmar:
Nisto se distingue a crítica de arte dos juízos sobre os acontecimentos históricos aos quais o historiador não assistiu, tendo de os julgar sobre interpretações e controvérsias; enquanto a arte, julga-se através das próprias obras que constituem a essência da sua história” (SANTOS, 1963, pp. 19-20)
Acreditamos que a compreensão integral da história da arte não se deve fazer apenas por uma “mera análise das obras existentes”, antes se deve analisar o artista e a obra como um sistema onde cabem várias problemáticas de múltiplos factores  como por exemplo: Quantas obras fez um artista antes de chegar às suas obras de maior valor artístico? Que circuitos artísticos e escolas frequentou? Que outros autores e artistas conheceu e que influência podem estes ter tido sobre a sua obra e a sua obra sobre estes? Existem outras obras que não chegaram até ao conhecimento público? Porque é que não chegaram? E o contexto onde a obra está actualmente é o mesmo para o qual ela foi produzida?
Enfim, uma série de perguntas que uma simples análise da obra ou obras de um artista não ajuda a responder, só a investigação documental, o estudo das fontes, a pesquisa exaustiva podem dar alguma luz sobre as mesmas. E é aqui que cabe aos investigadores, historiadores e historiadores da arte, entre outros, trabalharem em equipa, partilhando conhecimento e criando o “corpus documental” que em último caso irá beneficiar toda a comunidade, pois trata-se de conhecer melhor e preservar o nosso património artístico e histórico.



Palácio do Duque de Lafões
Continuando com o que já fiz com alguns posts anteriores, vou divulgar aqui notícias históricas sobre arte e património dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, em particular as Colecções de Arte das grandes casas particulares, temática talvez menos conhecida pela dificuldade em aceder quer às colecções ainda existentes, quer a inventários e outros documentos que nos permitam atestar a sua história.
Neste primeiro post divulgo uma breve notícia sobre o leilão do acervo da Galeria do Palácio Lafões, ao Grilo, sucedido em 1866. É interessante verificar a elevada dimensão do mesmo, 225 quadros, e ainda a diversidade de autores:

«LEILÃO DE QUADROS A OLEO, ANTIGOS
PELO JUIZO DE DIREITO E ORPHANOLOGICO DA VARA ESCRIVÃO COIMBRA
14 NA QUINTA FEIRA, 1 DO PROXIMO MEZ DE MARÇO, e dias seguintes, ás onze horas, no palácio da ex. ma casa ducal de Lafões (ao Grillo, próximo do Beato] se procederá á venda em leilão judicial de toda a antiga galeria pertencente á mesma. ex.ma casa de Lafões, e a cuja venda ora se procede em virtude do inventário da fallecida ex.ma sr.a D. Maria Carlota de Bragança; compondo-se a dita galeria de 225 quadros, sendo alguns dos seguintes auctores: Wan Dyck, Rubens, Baseano, Tintureto, Mignard, Carracci, Luccas Jeordani, Dominichino, Fravisane, André del Sarto, Giaccomo Brandi, Carlos Lorraine, e de muitos outros auctores, das escolas italiana, hollandeza e hespanhola.
O catálogo dos ditos quadros póde-se ver no inventario, do cartório do escrivão Coimbra, no tribunal da Boa. Hora, no escriptorio na rua dos Fanqueiros n. 235, 1.º andar, e no mesmo local aonde está a galeria no palácio do Grilo».
(Diário de Lisboa. Folha Official do Governo Portuguez, 23-2-1866)


O Palácio dos Duques de Lafões, ao Grilo, cujo risco, da segunda metade do século XVIII, se atribui a Eugénio dos Santos, ainda hoje é conhecido pelo excelente programa pictórico, nele se destacando, na chamada Sala da Academia, as pinturas murais de Cirilo Volkmar Machado.

Finalizando é preciso ter atenção que pode acontecer que nem todas as obras do referido espólio fossem quadros originais, sendo possível que alguns fossem cópias, as quais eram bem comuns no século XVII e XVIII, em especial de obras dos grandes mestres, contudo, pelo anúncio que publicamos, vimos que no período barroco, à semelhança da Casa Real, também noutras casas da nobreza vamos encontrar significativo património artístico ao nível da pintura.

RUI M. MENDES
Monte de Caparica, 13 de Maio de 2013

Imagens:

Bibliografia:
Reynaldo dos SANTOS – Oito Séculos de Arte Portuguesa. História e Espírito, Lisboa : Empresa Nacional de Publicidade, 1963-1965.
José Sarmento de MATOS – "Grilo, Palácio do", in Dicionário da Arte Barroca em Portugal, Lisboa : Editorial Presença, 1989.

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