terça-feira, 5 de julho de 2011

Guilherme Weingarten, mestre serralheiro (1759)


No barroco é normal falar-se da obra importante de arquitectos, pintores, escultores, e entalhadores, estucadores, e mestres organeiros, no entanto é mais raro falar-se de outros mestres que também deixaram a sua marca quer técnica quer artística, é o caso dos mestres serralheiros ou ferreiros, que em Portugal e em diversas obras contribuíram para a qualidade técnica e artística de algumas importantes obras de engenharia ou ainda de elementos decorativos.
A utilização do ferro como elemento construtivo ou decorativo, na primeira metade do século XVIII em Portugal verificava-se sobretudo nos grandes portões de acesso às quintas nobres ou de algumas casas religiosas, nos balcões das casas nobres e claro em algumas cruzes e cruzeiros, no entanto a sua utilização aumentou sobretudo em grandes obras de engenharia, como no caso do Aqueduto das Águas Livres e também como elemento decorativo, tornando-se neste particular, e sobretudo a partir da reconstrução pombalina, como um elemento importante para quebrar a monotonia das fachadas dos edifícios.

Nas três escrituras que sumariamos abaixo registam-se três obras contratadas ao mestre ferreiro e serralheiro alemão Guilherme Weingarten.

Weingarten, de quem não temos elementos biográficos, além de que tinha "fábrica" na praia de Santos, seria provavelmente um dos vários artífices que aportaram em Lisboa, por ocasião do enorme esforço de reconstrução de Lisboa e arredores, depois do terramoto de 1755.
Além das obras registadas nas escrituras abaixo referidas, sabemos que participou na feitura de grades do Torreão oriental da Alfândega na Praça do Comércio em 1776, sob orientação do arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos, e cujo pagamento aquele reclamava à Junta do Comércio em 1778, e que lhe foram pagos em 1781 no valor de 1:890$400 réis.
Pela mesma altura um outro mestre serralheiro alemão João Abram Hirsch reclamava à Junta do Comércio uma série de peças por pagar feitas para a inauguração da estátua equestre, como foram 49 pez de ferro lavrados para se porem as lanternas dos nichos da arcadas, palmos de ferro e mais pertenças para as Armas e Figuras do Arco Triunfal, e ainda 4 braços com suas Cruzes e Esfera para o novo Pelourinho.

(Portão do Ministério das Finanças fronteiro à Estação Sul e Sueste)

Weingarten foi também, de acordo com Gustavo de Matos Sequeira, mestre ferreiro e serralheiro da Congregação Patriarcal, tendo feito quase toda a obra de ferro da nova Patriarcal, incluindo gradeamentos, fechaduras lavradas, argolões, etc.. Foi ele também o autor e executor do projecto para a Casa Forte da Calcetaria, destinada ao Tesouro Patriarcal, pelo valor de 4:114$200 réis. Sucedeu-lhe neste cargo Matias José de Medeiros.

ÉVORA
1758
Notas de Maio do T. Manuel António de Brito
«Contrato e Obrigação = o Arcebispo de Évora com Guilherme Weingarten, ferreiro alemão = sobre obras de grades de ferro na Sé de Évora».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.119, f.75)
1759
Notas de Julho do T. João Ferreira da Silva
«Contrato e Obrigação = D. Fr. Miguel de Souza, Religioso de Santo Agostinho, Arcebispo de Évora com Guilherme Weingarten, alemão = sobre obra de grades de ferro para a Capela do Santo Lenho da Seé da dita Cidade a preço de 520 rs o arrátel; e recebeo o dito Guilherme 400$000 réis à conta do que importar; e por ele ficou fiador e principal pagador Manuel Jozé da Silva, morador ao Pombal da Cotovia».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.120, f.83)


(Grades da Capela de São Manços ou das Relíquias, Capela colateral da Sé Catedral de Évora. Estas grades (do século XVIII) foram inicialmente concebidas para a boca da capela-mor). (*)

CASCAIS
1759
Notas de Junho do T. Manuel Inácio da Silva Pimenta
«Contrato e Obrigação = a Junta Geral do Comércio por Ordem de sua Magestade com o mestre pedreiro Jacinto Izidoro de Sousa = sobre a obra do Farol que manda fazer no sítio de Nossa Senhora da Guia junto a Cascaes».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.120, f.154v)
Notas de Dezembro do T. Manuel Inácio da Silva Pimenta
«Contrato e Obrigação = a Junta Geral do Comércio com Guilherme Weingarten, serralheiro alemão = para fazer hua lanterna para a Torre do Farol no sítio de Nossa Senhora da Guia junto a Cascaes; e finda a dita Obra se lhe pagará pelos preços que vão ajustados de arrates de ferro, latão e cobre e não dando finda dentro de 5 meses pagará as penas que vão estabelecidas».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.120, f.297)
Mandado reconstruir na sequência do Alvará de 1 de Fevereiro de 1758, achava-se concluído em 1761.

(Farol da Guia, foto Bing Maps)


(*) Esta imagem foi publicada no Inventário Artístico de Portugal, Concelho de Évora, vol. II, Lisboa, A.N.B.A., 1966, est.121 (2). Autor David Freitas | Data Fotografia 1966 ant. - | Legenda Grade de ferro da Capela das Relíquias | Cota DFT6039 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME. Cit. http://viverevora.blogspot.com/2011/03/evora-perdida-no-tempo-grade-de-ferro.html)

RUI M. MENDES
Caparica, 5 de Julho de 2011

Sem comentários:

Enviar um comentário