terça-feira, 28 de junho de 2011

D. Pascoal Caetano Oldovini, mestre organeiro (act. 1742-1785)


(Assinatura de Pascoal Caetano Oldovini, foto:


No Cartório do Distribuidor de Lisboa, registamos no Livro de 1742 entre as notas do Tabelião Manuel António de Brito, uma Escritura de Contrato e Obrigação para a obra órgão para o Convento de S. Francisco de Évora, com o seguinte sumário:
1742
Notas de Janeiro do T. Manuel António de Brito
«Contrato e Obrigação = D. Fr. José Maria da Fonseca e Évora, Bispo do Porto com D. Pascoal Caetano = para obra do órgão para o Convento de S. Francisco de Évora».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.103, f.069)



(Órgão da Capela-mor da Igreja do Convento de São Francisco de Évora)

Localizado na capela-mor, no lado do Evangelho, em posição proeminente, apresentava uma localização pouco comum em edifícios monacais, onde se localizava maioritariamente no coro-alto do lado da Epístola.

Ana Paula Figueiredo, autora de um artigo sobre este órgão em 2002, refere que a primeira notícia relativa a este instrumento datava de 1754-55, altura em que se procede ao conserto do órgão por 32$380 réis, sendo desmontado e afinando em 1763 por 24$000 réis, nunca se mencionando os organeiros responsáveis. Foi ainda de novo restaurado em 1860 por José Ricali e em 1997 por António Simões.
Ana Paula Figueiredo registava então as grandes semelhanças com o órgão da capela-mor da Sé de Évora, cuja autoria estava documentada e atribuída a Pascoal Caetano Oldovini, atribuindo também a este mestre organeiro a autoria do órgão da capela-mor de S. Francisco de Évora.


Verificamos por este registo que esta atribuição foi correcta tratando-se este mestre organeiro o autor dos dois órgãos.

Esta escritura regista assim dois factos curiosos:
D. Pascoal Caetano Oldovini (c. 1720 + 25.4.1785), filho de José Oldovini e Ana Maria, mestre organeiro genovês, que teve oficina em Évora, e foi responsável no séc. XVIII por diversos órgãos em Igrejas (*) na região do Alentejo entre c. 1742 e 1785 (**), regista aqui provavelmente uma das suas primeiras obras em Portugal, e o facto de a escritura ter sido feita em Lisboa pode indiciar que este tinha acabado de chegar a Lisboa, e que por via desta obra se vem a estabelecer em Évora, já que a sua produção conhecida está centrada sobretudo no eixo Évora-Elvas-Portalegre.

D. Fr. José Maria da Fonseca e Évora (1690-1752), Bispo do Porto (1741-1752), natural da região de Évora, que fora Mestre em Artes na Universidade de Évora e Doutor em Cânones na de Coimbra, e que tendo vestido o hábito franciscano no Convento de Ara-Coeli, em Roma aí viveu durante 28 anos onde desempenhou uma carreira notável, regressava então a Portugal a convite de D. João V para ocupar a cátedra portucalense. O patrocínio desta obra num dos principais conventos franciscanos da sua região, representa um importante legado cultural à sua terra natal, numa época em que estava em trânsito de Roma para o Porto.

 
(D. Fr. José Maria da Fonseca e Évora, foto:

Trata-se de um registo interessante em diversas vertentes, a principal das quais é o patronato artístico pelas autoridades e principais figuras eclesiásticas, muito comum no período de D. João V e de que a acção de D. Tomás de Almeida, 1.º Cardeal Patriarca de Lisboa, terá sido apenas uma das faces mais visíveis.

Posteriormente em 1769, no Cartório do Distribuidor de Lisboa, regista-se no Livro desse ano entre as notas do Tabelião Agostinho de Sousa Pereira, uma nova Escritura de Contrato para a obra do órgão para a Igreja Matriz da vila do Crato, com o seguinte sumário:
1769
Notas de Janeiro do T. Agostinho de Sousa Pereira
«Contrato = o Sr. Infante D. Pedro com D. Paschoal Caetano, para este fazer um órgão flautado para a Igreja Matriz da vila do Crato, debaixo de várias condições sobre a formalidade dele e pelo preço e ajustado de 270$000 réis que logo no princípio o dito organeiro há-de receber a parcela de 70$000 réis e no meio da obra 100$000 réis e outro no fim ».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.130, f.101)

RUI M. MENDES
Revisão: Lisboa, 3 de Julho de 2011

Fontes:
FIGUEIREDO, Ana Paula, "O Órgão da Igreja", IN Monumentos, N.º 17: Igreja e Convento de São Francisco de Évora, 2002.
JANEIRO, João Paulo, "Pascoal Caetano Oldovini: A actividade de um organeiro genovês no Sul de Portugal, no século XVIII", IN Organi Liguri, vol. I, Génova, 2004.

Revisão 9 de Janeiro de 2013
Sobre Pascual Caetano Oldovini veja-se também:
ALMADA, Victorino d’ – “O órgão da Sé”, in Correio Elvense, n.º768, 8.ºano, 10 de Abril de 1897, p. 2.
BORGES, Artur Goulart de Melo – Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Elvas (antiga Sé), Évora, DRCA, 2005 (relatório interno entregue ao então IPPAR), pp. 10-11, 13, 15, 20-21, 26-27; idem, “A Igreja de Nossa Senhora da Assunção, antiga Sé de Elvas”, in Monumentos, Revista Semestral do Património Construído e da Reabilitação Urbana, n.º 28, Lisboa, IHRU, Dezembro de 2008, pp. 107-111.
CABEÇAS, Mário Alexandre Henriques Zacarias – A transfiguração barroca de um espaço arquitectónico: a obra setecentista na Sé de Elvas, Vol. 1, 2012, pp. 16-17, 20, 164-166, pub. http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6789

Revisão 4 de Agosto de 2014 (**)
Fontes sobre Pascoal Caetano Oldovino (como também se escrevia o seu nome): 
1752 – Igreja da Misericórdia de Montemor-o-Novo. Veja-se a revista Almansor, Ed. 1, Biblioteca Municipal de Montemor-o-Novo, 1983, p. 56.
1762 – «OLDONI (Pascoal Caetano). Construtor de órgãos italiano do séc. XVIII. Em 1762 construiu o grande órgão da Sé de Elvas». Vide Grande enciclopédia portuguesa e brasileira, Vol. XIX, p. 273; Guia de Portugal: 2.º vol. Estremadura, Alentejo, Algarve, Biblioteca Nacional de Lisboa, 1924, p. 442.
1764 – «O órgão portátil para o coro da igreja da Misericórdia de Évora foi encomendado a Pascoal Caetano Odolvino, em 1764, na condição de reproduzir "o que havia feito para o coro do Convento de Nossa Senhora do Carmo desta cidade". No ano seguinte, em reunião de mesa, os irmãos da Misericórdia decidem mandar pintar o novo órgão "com os filetes dourados, de cor de lápis-lazúli". (Arquivo da Misericórdia de Évora, Livro das Lembranças, 1764-1776, n.º 29, fls. 16 e 39)», pub. Arquivo Distrital de Évora in https://www.facebook.com/arquivodistritalevora/posts/714088058651667. Referido já em JANEIRO, João Paulo, "Pascoal Caetano Oldovini: A actividade de um organeiro genovês no Sul de Portugal, no século XVIII", IN Organi Liguri, vol. I, Génova, 2004.
1769 – «CRATO — Matriz — Órgão barroco com base no Flautado de 16 pés construído em 1769, cujas características denotam influência da escola italiana. A sua autoria é atribuída a Pascoal Caetano Oldovini». Cf. VALENÇA, Manuel, O órgão na história e na arte, Braga, Editorial Franciscana, 1987, p. 103. Atribuição inicial agora confirmada pela fonte publicada neste post.
1771 – «Em Fevereiro de 1771, encontramos os primeiros sintomas de melhoria. A Mesa (da Misericórdia de Borba) decidiu chamar o mestre italiano Pascoale Oldovino para elaborar um órgão novo. A escolha recaiu neste profissional por ser, como afirma a documentação, o mais perito desta Província», cf. SCMBRB\B\01\Lv 041, fl. 242v, João Miguel Ferreira Antunes Simões, História da Santa Casa da Misericórdia de Borba, Borba, Santa Casa da Misericórdia de Borba, 2006, p. 179, pub. https://www.academia.edu/1784651/Historia_da_Santa_Casa_da_Misericordia_de_Borba
1772 – feitura do órgão da Igreja Paroquial de Arronches por Pascoal Caetano Oldovino, pub. http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6570
1774 – Diogo José, escultor eborense, em Junho de 1774 emprestou a D. Pascoal Oldovino a quantia de 100 000 rs, cf. ADE, FN, Évora, Liv. 1438, fl. 93 v.-94, apud Fundação Eugénio de Almeida, Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora, Newsletter, n.º 3, pub. http://www.inventarioaevora.com.pt/newsletter/03/index.html.
(1762) e S. Francisco de Évora (1743), e nas Sés de Évora (1758) e Portalegre (s. XVIII), pub. http://antoniosimoes.no.sapo.pt/organeiro/obras.html


(*) No site http://www.apao.web.pt/organeiros/passado/oldovini.htm encontramos uma lista de obras conhecidas deste mestre organeiro, que transcrevo abaixo, corrigindo com as indicações e bibliografia acima.

(**) Agradecemos o Dr. João Paulo Janeiro que amavelmente nos cedeu uma cópia integral do seu trabalho, do qual apenas possuímos, em 2011, uma cópia parcial, pelo que aqui fazemos referência aos órgãos da autoria de Oldovini identificados no referido trabalho.

Lista de obras de órgãos atribuídos ao mestre D. Pascoal Caetano Oldovini (Oldoni, Oldovino ou Olduvini):
1742-43 – Convento de S. Francisco em Évora
1743 – Igreja Matriz de Reguengos
1744 – Convento do Carmo em Évora
1752 – Igreja da Misericórdia de Montemor-o-Novo
1755 – Monchique (desconhece-se qual o órgão) (**)
1755 – Coro Alto da Igreja de S. João Baptista de Moura (**)
1758 – Capela-mor da Sé de Évora
1760 – Igreja do Convento da Graça, em Vila Viçosa (**)
1762 – Sé de Elvas
1762 – Convento de S. Francisco em Évora (pequeno órgão de armário) (**)
1762 – Igreja do Convento das Mercês, em Évora
1764 – Coro da Igreja da Misericórdia de Évora (**)
1767 – Sé de Faro (reparação) (**)
1769 – Igreja Matriz do Crato
1771 – Igreja da Misericórdia de Borba
1772 – Igreja Matriz de Arronches
1772 – Igreja Matriz de Alvito
1777 – Colégio dos Santos Reis Magos, em Vila Viçosa (**)

Sem data:
? – Igreja Matriz de Nisa
? – Igreja Matriz de Cano, Sousel
? – Igreja do Convento do Espinheiro, em Évora
? – Sé de Portalegre

3 comentários:

  1. Agradável surpresa ter encontrado o seu blog. Já vi que há imenso a explorar e conhecer. Os meus parabéns.
    Convido-o a seguir o meu blog
    Luís Henriques

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  2. No Museu de Olivença há um exemplar assinado por Oldovino, originário da igreja de Santa Maria do Castelo

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